Trabalho
apresentado a disciplina de Antropologia do Curso de Psicologia.
Prof° Gilberto Gnoato
Curitiba,
16/outubro/2002
Psicologia 1º - B
ANEXO:
Entrevistas com pessoas da cidade de Morretes
Nome: Fábio
Mora em Morretes desde maio de 2002 . Trabalha na farmácia, e afirma
que mesmo os moradores de Morretes não comem muito Barreado, o
comércio é bastante influenciado pelos turistas que passam
por lá diariamente.
Nome:
Francismara
Idade : 27 anos
Nascida em Morretes, trabalha em confeitaria. Não come barreado
há seis meses, acredita que o significado do barreado para a cidade
seja a tradição da comida.
Nome: Elisângela
Idade: 23 anos
A cidade é conhecida pela cachaça e pelo barreado, que é
o ponto principal da cidade.
Toda a cidade é movida pelo turismo. Para as pessoas mais antigas,
a cachaça e o barreado ainda são muito importantes, já
para a população mais jovem, já perdeu um pouco da
importância. Afirma ela.
Nome: Castorina
Idade : 75 anos
A cidade sem o barreado e a cachaça não teria valor. Hoje
em dia não existem mais tantas usinas como antigamente. Morretes
é uma cidade boa.
Nome:
Zilda
Idade : 65 anos
Nascida e residente em Morretes, costureira.
O barreado é importante por atrair turistas e por ajudar a cidade
economicamente os moradores sentem orgulho do barreado. Compra barreado
sempre.
Nome:
Mauricio, dono de alambique e do restaurante Casarão.
Maurício possui um alambique com estruturas modernas, há
um ano. Seus bisavôs tinham alambiques e ele segue a tradição.
A venda da sua cachaça é feita apenas no município
de Morretes. Após o registro do Ministério da Agricultura,
será possível sua exportação.
O proprietário nos informou que a EMATER e o SEBRAI estão
em uma parceria para transformar Morretes no primeiro pólo de produção
brasileira de cachaça de qualidade.
Maurício possui o restaurante há dez (10) anos, e nos mostrou
como é feito o barreado. Nos disse que o restaurante tem seu maior
movimento nos finais de semana e do mês de Novembro até o
Carnaval.
Nome:
Bernadete
Idade: 41 anos
Residente há 21 anos em Morretes. A cidade é beneficiada
pela festa do barreado, e é beneficiada pela venda de seus produtos
como pão, por exemplo, para festa.
Nome:
Maria Antônia
Idade: 73 anos
Nascida e residente em Morretes, dona de hotel. O barreado não
traz benefícios, pois a maioria das pessoas que vem saborear o
barreado come e vai embora, não se hospeda em seu hotel. Faz barreado
em casa.
Nome: Emanuel Serriys,
turista belga.
Sexta vez que vem a Morretes. Já comprou casa e pretende morar
em Morretes, diz que o barreado é muito gostoso e Morretes e Brasil
são o paraíso.
Nome: Rose nascida
e residente em Morretes. Morou 26 anos fora de Morretes. Quando voltou
viu grandes transformações em Morretes. Diz que o barreado
é apenas um complemento da natureza e ao clima que tanto atraem
os turistas.
Nome: Marlene
Idade: 40 anos
Residente em Morretes desde 1992. Voluntária da associação
do artesanato de Morretes.
O barreado é uma comida típica que foi inventada pelos morretense,
e é diferente dos outros cozidos.
O barreado e a cachaça trazem muitos benefícios, porque
muitos empregos são gerados para o povo e ajuda a sustentar a cidade.
Os moradores dificilmente comem barreado. Todo o tipo de turistas vem
comprar artesanato.
Nome: Rosane
Reside em Morretes há 22 anos
Presidente da associação de artesanato de Morretes. Diz
que pela influencia do barreado, as vendas do artesanato aumenta e há
também mais divulgação.
Para o povo simples, o barreado não interfere em nada.
Nem toda a economia de Morretes é voltada para o barreado e para
a cachaça, mas também para a agricultura e cultivo de gengibre,
banana, compotas e conservas e reciclagem de papel. O ponto principal
de Morretes é a cachaça e o barreado, aí depois os
outros.
Nome: Marco
Idade: 20 anos
Nasceu em Salvador e veio para Morretes há 7 meses ainda não
comeu o barreado. Acredita que o barreado contribui para a gastronomia
local, lojas de artesanato.
Nome:
Marcel Duszczak
Dono de Alambique. Marcel nos mostrou o processo da fabricação
de aguardente, o moer da cana, a fermentação, destilação
e a aguardente pronta. Nos informou que a cachaça se divide em
três partes, a cabeça, o coração e a cauda.
Muitos turistas compram sua cachaça. Junto ao alambique, há
uma loja, onde, alem da cachaça vende-se farinha, licor e bala
de banana. Marcel está tentando resgatar a tradição
dos alambiques em Morretes há cinco (5) anos.
Nome: Wilson Malucelli.
Dono de alambique. Nos mostrou o processo de produção de
aguardente, e nos disse, que o gosto e a cor da cachaça são
dados de acordo com a madeira usada para a fabricação do
tambor onde a cachaça é armazenada (a madeira usada em seu
alambique é o Carvalho). Nos disse também, que há
instrumentos que medem o açúcar, o álcool e a acidez
da cachaça (sacarímetro. alcoômetro, mostimetro).
Malucelli vende a cachaça no Município, e espera o registro
do Ministério da Agricultura para poder exportar. Segundo ele,
na década de 1960, havia aproximadamente 60 alambiques na estrada
do Anhaia e a sua decadência aconteceu entre outros motivos pela
burocracia.
Malucelli segue a tradição desde 1877, No município
há cinco(5) anos, os produtores tentam resgatar essa tradição.
Nome: Frederico Leal:
Diquinho
Dono de alambique. A produção de cachaça começou
com o pai de Diquinho. Durante a decadência da produção
de aguardente, Diquinho continuou para manter a tradição.
Ele planta cana. São produzidos em seu alambique, cerca de cem
(100) litros de cachaça por dia. E para atingir cor e gosto, fica
em um tonel pequeno de carvalho por seis (6) meses.
Nome: Cléverson
Funcionário do Restaurante Ponte Velha. De acordo com o funcionário,
a cachaça e o barreado têm uma importância cultural
e econômica. O restaurante tem aproximadamente treze(13) anos.
Nome: Rosângela
Professora da Escola Rural Municipal. A professora nos informou que o
barreado e a cachaça têm uma tradição, além
da importância econômica.
Nome:
Romano
Dono de bar. Possui o bar há mais de vinte(20) anos. Os freqüentadores
são sempre os mesmo e costumam ir ao bar no mesmo horário.
O bar é um ponto de encontro, onde se discutem os assuntos: política,
economia, futebol, religião, astrologia, etc. Romano disse, que
quando um freqüentador não vai ao bar, fica faltando algo
em seu dia.
O bar não é um ponto de venda de cachaça, mas sim,
um ponto de ligação entre os freqüentadores.
SIGNIFICADO
DO BARREADO E DA CACHAÇA NA SOCIEDADE MORRETENSE
Roteiro 1- TEMA:
Barreado e Cachaça 2- DELIMITAÇÃO:
Significado do Barreado e da Cachaça na sociedade
morretense. 3- PRESSUPOSTO:
Pressupõe-se que o Barreado e a Cachaça tenham
um significado econômico e cultural para a população
de Morretes. 4- QUESTÃO
DE PESQUISA: Qual o eixo socializador do Barreado
e Cachaça para o povo morretense. 5- OBJETIVO:
Identificar o significado econômico, histórico
e cultural do Barreado e da Cachaça para a população
morretense. 6- DISCUSSÃO
TEÓRICA: Encontra-se um eixo socializador
entre Barreado, Cachaça e Morretes, uma rede de significados
compartilhados (Geertz 1978).
BARREADO:
O antropólogo social
Gilberto Velho (1992), mostra um exemplo na avenida Copacabana,
em que um transeunte qualquer subitamente cai na calçada,
tomado por uma série de sinais e sintomas que poderiam
ser diagnosticados como sendo uma crise convulsiva. Se era
realmente, isto pouco importa para o estudo da Antropologia.
Fato é que em um dado momento após a aglomeração
de muitos curiosos, pairou no ar um universo consensual
sobre o fenômeno. O cidadão caído ao
chão havia incorporado o Preto Velho. Esta descrição
do fenômeno nos mostra o seguinte: Enquanto o povo
está junto participando de um mesmo interesse, possui
um foco comum de atenção e suspende outras
atividades e compromissos para compartilhar por algum tempo
esta definição comum da realidade que vai
operar a mesma província de significados comuns.
No contexto morretense percebe-se
a mesma situação. Pessoas atuam dentro de
um mesmo sistema compartilhado de crenças e valores,
mesmo admitindo uma certa variação individual.
Entretanto, o comportamento e a participação
dos indivíduos apresentam uma homogeneidade.Com a
homogeneidade dessa interação ocorre uma rede
de significados, em que a maior parte da população
de Morretes se une no mesmo interesse diante de um acontecimento
(A Festa do Barreado, na “Terra da Cachaça”),
embora possuam um cotidiano diferente, com crenças,
costumes e religiões diferentes. Mas ao se unirem
em torno de um mesmo fato comum, os morretenses formam um
grupo único: A sociedade morretense, enlaçada
por uma rede comum através do barreado e da cachaça.
CACHAÇA:
Na Espanha, segundo Cascudo(1968)
era fabricado uma espécie de aguardente obtida com
as borras das pisas de uva. Evidentemente quando os europeus
vieram para o Brasil, trouxeram os seus costumes.
A cachaça nasceu da
indústria do açúcar (o Brasil foi por
mais de duzentos anos a terra do açúcar),
bastarda e clandestina, merecendo depois proclamação
de legitimidade. A cachaça tornou-se uma bebida nacional.
O brasileiro é devoto da cachaça, mas não
é cachaceiro, ou seja, a cachaça se torna
um eixo socializador entre os indivíduos, não
sendo comparada a uma droga, mas ao cafezinho bem brasileiro.
A ida a campo confirmou a concepção de Cascudo.
Romano Marques (entrevistado
e proprietário de um bar em Morretes), nos informou
que uma variedade de pessoas freqüentam seu bar (amigos,
médicos, clientes novos e antigos). Normalmente os
clientes vão sempre no mesmo horário, todos
os dias (através de uma repetição ritualística.
Os ritos servem para reforçar o comportamento social
e os costumes de uma cultura através da sua repetição).
Chegando no bar, pedem uma “cachaça”
e ficam várias horas conversando sobre vários
assuntos, como futebol, política, astrologia, assuntos
gerais.
A entrevista realizada no
bar, de uma forma sucinta nos mostra que os entrevistados
não consideram a cachaça uma droga, mas a
comparam ao cafezinho ou a um bom palheiro, pois esta estabelece
uma ligação entre os indivíduos.
7-
METODOLOGIA: Esta pesquisa adotou
como método a Observação Participante,
onde nos deslocamos até Morretes duas vezes durante
o trabalho, nos dias 14 de setembro e 24 de setembro. Passamos
os dias observando e interagindo com a população
nas ruas, em lojas de artesanato, loja de confecções
e loja de consertos de utilidades doméstica, fomos
à farmácia, panificadora, bar, hotel, escola,
posto de gasolina, casa lotérica, biblioteca, associação
do artesanato de Morretes, correio, alambiques e restaurantes.
Os instrumentos de pesquisa foram: fotos de engenhos antigos
e modernos, de pontos comerciais, restaurantes. Filmagens
de restaurante, engenho e bar. Utilizamos textos literários,
panfletos cedidos pela Secretária da Cultura e biblioteca
e entrevistas aberta com:
- Maurício, dono do restaurante
Casarão e produtor de cachaça da cidade;
- Ronaldo, representante do restaurante
Madalozo
- Renato, representante do restaurante
Ponte Velha.
- Rosane, presidente da Associação do Artesanato
de Morretes.
- Diquinho, mais antigo produtor de cachaça da região.
- Marcel José Wilson, dono do Engenho Novo.
- Malucelli, atual dono do Alambique Sítio do Campo.
- Romano dono de bar.
- Entrevistas com moradores, comerciantes, com variação
de idade de 23 a 75 anos. Estes moradores vivem em Morretes
de 5 meses a 75 anos.
8-
CONCLUSÃO:
Partindo da discussão teórica, analisando
o trabalho de campo, concluísse que: o Barreado e
a Cachaça trazem para o povo de Morretes um significado
de tradição, em que a maior parte da população
sabe como se faz o Barreado e a Cachaça, como se
originaram e se desenvolveram estas tradições.
Neste aspecto histórico e tradicional, percebe-se
não uma sociedade fragmentada, e sim uma relevância
na relação do povo morretense com Barreado
e Cachaça.
10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CASCUDO, Luís da Câmara. Prelúdio da
Cachaça - Etnografia, História e Sociologia
da Aguardente do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Itatiaia Ltda,1968.
DA
MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? A questão
da identidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.
GEERTZ,
Clifford. A interpretação das culturas. Rio
de Janeiro: Zahar, 1978.
GNOATO,G.
Tradição e Modernidade: um encontro com a
Antropologia e a História na cidade de Morretes.
Curitiba, 2001. 14f. Universidade Tuiuti do Paraná.
LAPLANTINE,
François. Aprender Antropologia. 2º ed. São
Paulo. Ed. Brasiliense, 1989
VELHO,
Gilberto. Unidade e fragmentação em sociedades
complexas. In: VELHO, Gilberto; VELHO Otávio (orgs.).
Duas conferências. Rio de Janeiro: Câmara de
estudos avançados/FCC/UFRJ, 1992.
POVO,
Gazeta do. 1998, 2000, 2001.
ELIANE
KAMPA
GEOVANA DAS D. S. SIMIÃO
LIANE SCHEFFER
MURIEL ASSUMPÇÃO
ROSANGELA KAROLINE BRODHAGE
TALITA SILVA BARBOSA
TALITHA F. DE ANUNCIAÇÃO
THIANA WILMA BIALLI
RECEITA
DO BARREADO
5
Kg de carne fresca( cochão mole ou patinho)
500 gramas de toucinho fresco
3 cabeças grandes de cebola
3 dentes de alho
4 folhas de louro
6 pitadas de cominho
6 pitadas de pimenta do reino
4 maços de cheiro – verde
1 maço de alfavaca
½ litro de vinagre
sal a gosto
PREPARO
Começa-se o corte e a limpeza das carnes de véspera.
As carnes e o toucinho devem ser cortados em pedaços
pequenos, adicionando-se todos os temperos cortados.
Leva-se tudo a uma vasilha que não seja de alumínio.
Deixa-se repousar até o dia do preparo. Forra-se à
panela com toucinho e leva-se ao fogo para derreter. Depois
põe-se a carne temperada, tampa-se a panela com uma
folha de bananeira previamente sapecada na chapa para amolecer,
amarra-se com um barbante grosso nas bordas. Coloca-se a tampa
e barrea-se com uma mistura de cinza de fogão, farinha
de mandioca e água fervendo, para dar a liga. Depois
de bem vedada, leva-se ao fogo forte nas primeiras horas,
passando-se para um fogo mais brando depois. O fogão
tem que a lenha.
O tempo de cozimento deve ser de 12 horas.
Quando a folha de bananeira estiver bem escura está
pronto o barreado.
MODO
DE SERVIR
Serve-se com farinha de mandioca, banana, laranja e arroz.
Acompanha uma bebida alcoólica( batida ou pinga) que
serve para rebater este prato, considerado forte.