Contos e Causos

MORRETES PRECISA DE UM COZINHEIRO


Giovani Bonzatto da Silva

Esta festa-feira em Morretes me fez lembrar aqueles velhos tempos, quando tudo estava começando. Eram as primeiras festas-feiras que surgiram na nossa cidade e confesso que tive saudade, nem tanto da festa, porque a festa quem faz são os amigos. Lembrei-me como éramos unidos e o prazer que tínhamos de fazer as coisas juntos, como todo bom companheiro.
Enquanto eu passava pelas barracas desta festa de hoje eu ia me lembrando que naquele tempo, o que fazia a festa era a amizade e as barracas que mostravam com orgulho aquilo que era nosso de verdade. Para mim, isto era a festa. A nossa amizade e a nossa alegria, porque tínhamos coisas que eram só nossas.
Os tempos mudaram, mas muito além da sucessão das estações do ano, as pessoas também mudaram. Algumas pioraram.
Enquanto eu comia o barreado da festa, sentia saudade daquele nosso barreado. Mas agora, o barreado é feito para quem vem de fora. Sem tempero, sem gosto, sem memória.
O nosso barreado não é mais para nós. É para os visitantes e a nossa festa também não é mais nossa, é dos patrocinadores, dos oportunistas e de alguns estrangeiros. Talvez tenhamos trocado as coisas certas pelas duvidosas. Talvez tenhamos mudado o tempero do barreado, trocado a panela velha de barro por uma de alumínio. Também misturamos água na nossa pinga e alguns até foram enganados pelas falsas fragrâncias das flores artificiais.
Têm coisas que não podem ser misturadas na mesma panela. A comida já está muito diferente do que era. Não sei se o nosso povo está gostando dela. Não sei se sentaremos todos juntos à mesa na próxima refeição, porque até o cozinheiro já não é mais o mesmo.