FACULDADE DOM BOSCO

AS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NA VISÃO DO JOVEM MORRETENSE

 

JUNHO/2005

 

CASSANDRA GULIN

JOSE ELISEU AGUILAR

MARGARETH POLATTI TOMAZ

MURIEL VILLAS BÔAS

RITA DE CASSIA V. PALMA

AS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NA VISÃO DO JOVEM MORRETENSE

Trabalho elaborado como requisito à obtenção de nota parcial da disciplina de Indivíduos e Organização, do quarto período do curso de Psicologia da Faculdade Dom Bosco sob a orientação do professor Gilberto Gnoato.

 

JUNHO/2005

 

Apresentação

Esta pesquisa foi realizada na cidade de Morretes ,localizada a 62 km da capital paranaense, com o intuito de analisar o nível de conhecimento de jovens estudantes, acerca das informações a respeito das doenças sexualmente transmissíveis. O universo da pesquisa se deu numa escola pública de ensino médio e fundamental do município , entre 29 estudantes de ambos os sexos, com idades que oscilaram entre 12 e 20 anos.

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) constituem-se numa antiga preocupação, pois ainda, observa-se o desconhecimento, na maioria dos jovens e adultos, sobre este tema. De acordo com uma pesquisa do Instituto Data Folha, realizada em dez capitais brasileiras e divulgada em junho de 1993, somente 32% dos pais conversam sobre sexo com seus filhos. Mesmo que já se tenha passado alguns anos desde a realização destas pesquisas, o trabalho de orientação sexual ainda é muito incipiente no país. É necessário reconhecer como prioridade investimentos na área da saúde e educação da criança e do adolescente.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (1986), a escola é um dos principais centros para a educação no setor de saúde, sendo o melhor espaço para realizar trabalhos preventivos para esta faixa etária, constituindo-se um local privilegiado para a abordagem da prevenção as DST.

Por entendermos que a orientação sexual e o trabalho preventivo sobre DST são temas de grande relevância social, acreditamos que a escola é um agente facilitador para realização de pesquisa e para os propósitos do nosso trabalho, visualizando a possibilidade de uma futura intervenção na orientação sexual, como sistema de prevenção de saúde.

No processo investigativo os alunos de psicologia buscaram uma aproximação com os jovens da área selecionada para o estudo, apresentando a proposta da pesquisa aos grupos envolvidos, esclarecendo sobre o assunto que pretendiam investigar e as possíveis repercussões favoráveis advindas do processo investigativo.

Ao debruçarmos sobre os problemas que ocorrem em nosso país relacionados à deficiência na área de prevenção de doenças, visualizamos a possibilidade de utilizar a Psicologia num trabalho interdisciplinar com a área da saúde para buscar formas alternativas de enfrentar os problemas e produzir estratégias de melhorar a saúde da coletividade.

O presente trabalho desenvolvido na cidade de Morretes, microrregião litorânea da capital paranaense, entre os jovens da escola pública de ensino fundamental e médio do Colégio Estadual Rocha Pombo, pretende dar continuidade em 2006.

 

Justificativa

Na posição de alunos do curso de psicologia da faculdade Dom Bosco, sob a orientação do professor Gilberto Gnoato, buscando contribuir para amenizar a desinformação dos jovens quanto aos riscos e prevenções das DSTs e interados da incipiência atual da situação de saúde do país, elaboramos um estudo piloto de cunho investigativo, para posterior intervenção; onde pretendemos atuar junto às escolas, por entendermos serem elas, lugares privilegiados. As relações sociais e relacionamentos amorosos entre os jovens ocorrem, em sua maioria, no ambiente escolar.

Por entendermos que nossa pesquisa é de relevância social e pautados na necessidade de obtenção de informações, buscamos através de entrevistas, conhecer as dúvidas e sugestões dos jovens, relativas à prevenção sexual, direcionando-nos aos aspectos de maior interesse do grupo participante.

Problematização

A falta de informação acerca das DSTs, acarretaria consequências físicas e psicossociais para o indivíduo e para o seu grupo de pertencimento.

Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo analisar o nível de conhecimento dos jovens de uma sociedade tradicional acerca das DSTs e seus sintomas.

Objetivo específico

Decodificar as Representações Sociais presentes no imaginário morretense, acerca das DSTs, entre estudantes de ambos os sexos com idades entre 12 e 20 anos,

Metodologia

Esta pesquisa foi realizada com 29 jovens estudantes do ensino fundamental e médio do Colégio Estadual Rocha Pombo, localizada na cidade de Morretes.

O método utilizado na exploração de dados nesta pesquisa qualitativa foi de entrevistas em forma de grupos focais.

A realização da entrevista foi de natureza coletiva, numa conversa com propósitos definidos, onde os informantes abordaram livremente o tema proposto.

A entrevista se deu em três pequenos grupos focais, com uma duração de 20 a 30 minutos cada grupo em dias alternados.

O primeiro grupo constituído por 11 jovens na faixa etária dos 12-13 anos, sendo 6 meninos e 5 meninas estudantes da sétima série do ensino fundamental, o segundo grupo constituído por 12 jovens na faixa etária dos 13-15 anos, sendo 8 meninos e 4 meninas estudantes da oitava série do ensino fundamental, e o terceiro grupo constituído por 6 jovens na faixa etária dos 16-20 anos, sendo 3 rapazes e 3 moças estudantes do terceiro ano do ensino médio.

Todos os jovens participantes são estudantes da Escola Estadual Rocha Pombo, localizada na cidade de Morretes, onde o encontro se deu num espaço cedido por esta.

A transcrição dos relatos dos entrevistados está contida nos anexos.

A atuação dos alunos do curso de Psicologia da Faculdade Dom Bosco foi de interação com os grupos , fazendo intervenções visando seguir o roteiro previamente estabelecido, buscando desta maneira direcionar a entrevista para o foco de estudo deste trabalho.

Roteiro de perguntas:

Teoria

Com base no fato de que os alunos do ensino médio têm uma carga horária de 4 horas e meia diárias, podemos inferir que a escola é um local privilegiado para a realização de pesquisas, por ela favorecer as relações sociais e os relacionamentos amorosos entre os jovens.

Por entendermos que a educação sexual e o trabalho preventivo sobre doenças sexualmente transmissíveis, serem temas de grande relevância social, acreditamos que a escola é um agente facilitador para os propósitos do nosso trabalho.

Costa e Lopes (1989) afirmam que "é através da atuação da psicologia comunitária, que programas de saúde podem ser aplicados no âmbito local de cada comunidade. A psicologia da saúde e a psicologia comunitária estabeleceriam assim uma relação na qual esta última se converteria em um instrumento se implementação dos programas que envolvem conceitos da primeira. Seria através da psicologia comunitária que os programas de saúde se tornariam ágeis e integrados ao tecido social em que os processos de saúde se dão".

Pautados na necessidade de obtenção de informações, buscamos através de entrevistas conhecer as dúvidas e sugestões dos jovens relativas a prevenção sexual, direcionando-nos aos aspectos de maior interesse do grupo.

As sociedades tradicionais, no caso Morretes, possuem características diferentes das sociedades modernas; daí a importância de se dialogar com a Antropologia, ciência das fronteiras, afim de se poder analisar de que forma as crenças e costumes locais poderiam estar direcionando as concepções sobre as DST, bem como qual seria o núcleo central das representações sociais presentes no imaginário dessa população. Não se pretende nesta pesquisa o avanço teórico apontado acima, já que este trabalho é uma Pesquisa-Ação, mas de uma maneira ou de outra, a continuidade deste trabalho exigirá do pesquisador um aprofundamento teórico mais extenso que este.

Análise e discussão dos resultados

As informações obtidas, nos levou a uma maior compreensão dos conflitos e dúvidas que afligem os jovens.

Na primeira entrevista realizada com jovens da sétima série inicialmente apresentaram bastante constrangimento devido ao tema em questão. No decorrer da entrevista os alunos se sentiram mais confortáveis e tornaram-se mais participativos. Nesta entrevista pudemos inferir que o conhecimento sobre as DSTs era muito precário, sendo que apenas dois alunos que participaram da catequese demonstraram algum conhecimento sobre o tema. Deste grupo duas alunas falaram que além de não saberem nada das DST, também não tinham conhecimento sobre menstruação, e pediram maiores esclarecimentos sobre o assunto. Quatro alunos comentaram que sabiam sobre Aids e gonorréia, e que gostariam de saber mais. A maioria dos alunos afirmou que as DST ocorrem com maior freqüência em Curitiba por ter mais usuários de drogas e maior população.

Na segunda entrevista realizada com o grupo da oitava série após uma timidez inicial pudemos averiguar que também havia pouca informação sobre as DST. Deste grupo destacaram-se dois alunos que afirmaram conhecer um pouco sobre o assunto, sendo que um deles afirmou conversar bastante com seu pai que é médico. Uma jovem falou que sua mãe trabalhava no Conselho Tutelar e busca oferecer-lhe vídeos e livros para informá-la. Podemos destas duas informações indicar que o trabalho dos pais ligados à área de saúde é um facilitador para o nível de informação de seus filhos.

No terceiro grupo constituído por alunos do terceiro ano do ensino médio a entrevista ocorreu num clima de descontração e participação ativa, por se tratarem de jovens de 16 a 20 anos. Neste grupo a conversa fluiu mais aberta onde os jovens falaram sobre as dúvidas da pílula do dia seguinte e pediram maiores informações sobre o assunto. Alguns rapazes sugeriram que gostariam de saber mais sobre gravidez e que não tinham muita "abertura" com os pais para falar de sexo. A maioria dos rapazes afirmou que quando tem dúvidas sobre DST e gravidez conversam entre eles, pois tem vergonha de falar com os pais. Três rapazes afirmaram que tem mais liberdade de conversar sobre o assunto com suas mães. Duas moças afirmaram que conversam sobre o assunto com suas mães, mas que estas também tem vergonha ou pouco conhecimento. Uma das moças falou que os jovens de Morretes não têm onde buscar informações mais esclarecedoras sobre gravidez e DST, sugerindo que este tipo de serviço pudesse existir nas escolas, já que na cidade não existe este trabalho e sempre tem que recorrer ao ginecologista, o que nem sempre é viável, pois leva-se três dias para marcar uma consulta.

Todos fizeram sugestão para que fossem dadas palestras onde poderiam dirigir perguntas aos palestrantes de forma escrita para que ninguém se visse em evidência, evitando constrangimentos. Sugeriram que palestras em oportunidades diferentes, também fossem oferecidas aos pais.

Por se tratar de temas que envolvem assuntos delicados como a sexualidade e DST, os pesquisadores concluíram que os grupos deveriam ter sido separados, sendo um de rapazes e outro de moças, pois facilitaria a promoção de descontração e a obtenção de melhores resultados. É relevante salientar o interesse demonstrado pelo diretor professor Olindo Possiede Junior, que por ser professor de ciências é sabedor da importância deste tipo de intervenção e esclareceu que o colégio não pode proporcionar aos alunos este trabalho por ter uma grade curricular a cumprir.

Instigados pelo interesse dos alunos, do diretor, e por não haver em Morretes este serviço, nos sentimos provocados em continuar este trabalho cientes de sua utilidade social.

Conclusão

O trabalho investigativo obteve resultados relevantes, onde os pesquisadores buscaram anotar as informações, atuando predominantemente como "observadores participantes".

Com os resultados dos dados obtidos nas entrevistas realizadas, podemos afirmar que existe um desconhecimento entre a maioria dos jovens, não só das questões sobre DST, mas também sobre sexualidade assim como das mudanças corporais que passam na adolescência. Desta maneira podemos concluir que o trabalho de intervenção informativa será de extrema importância para esta população. O passo seguinte desta trajetória implicará numa programação para o segundo semestre de 2005 que contemple um ciclo de palestras e discussão acerca das DSTs no local onde foi realizada esta pesquisa.

Referências

Suely Ferreira Deslandes, Otávio Cruz Neto, Romeu Gomes; Maria Cecília de Souza Minayo (organizadora). Pesquisa social: teoria, método e criatividade/- Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

DORIN, E. Dicionário de psicologia abrangendo terminologia de ciências correlatas. - São Paulo, SP: Edições Melhoramentos, 1978.

MAGALHÃES, Luzia Eliane Reis: ORQUIZA, Liliam Maria. Metodologia do Trabalho Científico: elaboração de trabalhos. Curitiba: FESP, 2002.

http://www.estacio.br/ptp/site/projetos_academicos/educaçao_sexual.asp

 

Anexos

Transcrição do grupo focal

Grupo I

Sujeito I (menino, 13 anos): Já tinha ouvido falar sobre DST, mas a única que sei é da Aids. Não tenho liberdade para falar disso com meus pais. Caso eu tenha alguma dúvida sobre algo que esteja me acontecendo vou procurar o meu pai. Acho que em Curitiba a probabilidade de doença sexualmente transmissível é maior porque a cidade é grande. Gostaria de obter informações sobre as doenças mas que tivesse fotografia delas.

Sujeito II (menino, 12 anos): Já tinha ouvido falar sobre algumas doenças sexualmente transmissíveis, mas nunca vi ninguém, a única que sei mais é a Aids. Fico apavorado com o fato de ter que perguntar alguma coisa aos meus pais, pois acredito que levaria umas "bofetadas" se perguntar isso para eles. Se tiver dúvida perguntaria aos meus amigos. Tenho muito interesse em participar de grupos que estudam sobre as doenças sexualmente transmissíveis, mas meus pais não podem saber. Acho que em Curitiba tem mais gente doente do que aqui porque é maior.

Sujeito III (menino, 12 anos): Eu já ouvi falar de várias doenças, Aids, gonorréia, sífilis e herpes. Converso muito com meus pais, quando tenho dúvidas procuro livros, vídeos, etc. Acho que a falta de informação é porque não conversam em casa. Adoraria ter mais informações sobre as doenças sexualmente transmissíveis, mais que também tivesse oportunidade de ver as doenças.

Sujeito IV (menina, 12 anos): Conheço só a Aids, tenho vergonha de falar com meus pais, mas quando tiver dúvidas vou perguntar para a minha mãe. Agora eu converso com as minhas amigas sobre as minhas dúvidas. A minha maior dúvida é sobre menstruação. Gostaria que tivesse palestras e gostaria que meus pais também participassem, só que não junto comigo. Acho que em Curitiba tem mais doenças porque é uma cidade grande.

Sujeito V (menina, 12 anos): Converso com meus pais "por cima". Caso tenha alguma dúvida sobre algo que esteja acontecendo comigo (no meu corpo) procuraria a minha mãe e se ela não souber nós vamos no médico. Leio revistas, livros, vejo filmes e converso com minhas amigas. Já menstruei, mas tenho dúvidas sobre o assunto. Acho que a televisão tem mostrado muito sobre as doenças, mas depende unicamente de cada pessoa e não o fato de morar em Curitiba ou Morretes.

A menina não se inibiu ao relatar o que sabe e pediu para ter maiores informações. Aprendeu muitas coisas também na catequese.

Sujeito VI (menina, 12 anos): Estava muito envergonhada e apenas repetia o que os outros falavam. O único momento em que se expressou foi para relatar que conversava muito pouco com sua mãe e que gostaria de participar de cursos sobre o assunto. Perguntou também se poderia se corresponder por carta ou e-mail.

Sujeito VII (menina, 12 anos): Estava extremamente envergonhada e apenas ficava dando risadas. O único momento em que se pronunciou foi para falar muito baixinho "que tinha dúvidas sobre menstruação".

Sujeito VIII (menino, 12 anos): Sei muito pouco sobre Aids, só o que vejo na televisão e o que converso com meus amigos. Converso pouco com meus pais, mas acho que eles também gostariam de participar do curso de doenças sexualmente transmissíveis. Acho que mesmo tendo muita propaganda, em Curitiba tem mais gente doente do que aqui porque é maior.

Sujeito IX (menino, 12 anos): Tenho muita vergonha de conversar com meus pais e amigos, prefiro ficar com dúvidas. Gostaria muito de participar do curso, só que eu gostaria de ter as imagens delas.

Sujeito X (menino, 13 anos): Apresenta-se muito quieto durante a entrevista, mas questiona em um único momento que tem muito interesse em saber sobre as doenças.

Sujeito XI (menina, 12 anos): Estava agarrada com duas amigas, extremamente envergonhada. A cada pergunta questionada cobria o rosto e dava gargalhadas não respondendo nada. Ao final muito envergonhada sussurrou ao ouvido de uma das estudantes de psicologia que tinha dúvidas sobre menstruação, pois havia acabado de acontecer com ela. Prefere se comunicar por carta, telefone ou e-mail.

Observação: quando questionamos sobre a preferência entre namorar ou ficar, quase 98% preferem ficar por se ter mais liberdade.

Grupo II

Sujeito I (menina, 14 anos): nunca fiquei, mas ficar é melhor do que namorar, pois não me deixa presa, recebo informações da minha mãe que trabalha no Conselho Tutelar, ela me traz livros e vídeos. Gostaria de ter mais informações por palestras e me aconselharia sobre as minhas dúvidas por telefone ou via computador.

Sujeito II (menina, 14 anos): Prefiro ficar, namorar deixa preso. Não tenho com quem conversar. Gostaria de ter mais conhecimento, as palestras seriam ótimas. Os jovens de Curitiba tem mais probabilidade de pegar doenças, porque tem mais gente.

Sujeito III (menina, 13 anos): Converso muito com a minha mãe e sei apenas o básico sobre as doenças. Nunca namorei nem fiquei. Tenho bastante interesse em saber sobre as doenças sexualmente transmissíveis e eu gostaria que a minha mãe também participasse. Acho que as DST são mais divulgadas em Curitiba e que por ser grande tem mais doentes.

Sujeito IV (menino, 13 anos): Manteve-se quieto e apenas participou do grupo expressando-se com a cabeça.

Sujeito V (menino, 13 anos): Participou do grupo apenas para sair da sala, quando participava era com respostas agressivas e não demonstrava interesse.

Sujeito VI (menino, 13 anos): O que conheço sobre as doenças é só o que escuto falar ou em conversa com meus amigos. Se eu perguntar alguma coisa para o meu pai ele me daria uma surra. Gosto muito de ficar, pois não posso namorar. Quero participar dos cursos e me comunicar por carta. Não sabe opinar onde tem pessoas com maior índice de DST.

Sujeito VII (menino, 14 anos): Estava muito envergonhado e não quis participar, apenas escutava.

Sujeito VIII (menino, 13 anos): idem ao sujeito VII.

Sujeito IX (menino, 13 anos): Converso bastante com meus pais, tenho acesso a livros, vídeos, Internet que me ajudam a tirar as dúvidas. Gostaria de ter mais informação para mim e para os meus pais. Argumentou que talvez o índice de DST em Curitiba seja maior porque as pessoas usam mais drogas. Também gostaria de ter conversas diretas com alunos de psicologia.

Sujeito X (menino, 14 anos): Converso muito com minha mãe e já fui ao médico tirar dúvidas. Namoro e acho que ficar trocando de namorada não é correto. Procuro informações em livros e converso com meus pais, acho que conversa entre amigos não vale a pena, pois acredito que a maioria é desinformada. Acredito que em Curitiba as pessoas têm mais doenças pelo fato de trocarem muito de parceiros. Ficou muito interessado em receber mais informações sobre DST.

Sujeito XI (menino, 15): Apenas ficava envergonhado e sorrindo sem parar.

Sujeito XII (menina, 14 anos): Prefiro namorar para não ficar mal falada.

Observação: observamos que as crianças que tinham informações sobre DST mantinham uma postura mais firme, "fisicamente mais tranqüilidade".

Grupo III

O grupo que entrevistamos foi de seis, sendo três meninas e três rapazes entre 16 a 20 anos:

  • 1 menina de 16 anos
  • 2 rapazes de 17 anos
  • 1 menina de 18 anos
  • 1 rapaz de 18 anos
  • 1 menina de 20 anos

Começou-se por esclarecer o objetivo da entrevista; esta seria uma entrevista onde a identidade seria preservada, e ter conhecimento para uma futura intervenção com os adolescentes da cidade de Morretes.

Entrevistador

Vocês conhecem ou sabem o que são doenças sexualmente transmissíveis?

Sujeitos:

  • Conhecemos somente algumas, aids, gonorréia;
  • Não temos uma orientação sobre isso;
  • Só escutamos falar;
  • Em Morretes não temos nenhuma orientação desse tipo, temos dúvidas e não sabemos onde recorrer.

Entrevistador

Vocês sabem a diferenças entre ficar e namorar?

Sujeitos:

  • Ficar é dizer que quero te beijar;
  • Ficar é passar uma hora, duas horas ou até um dia, uma semana com a mesma pessoa;
  • Eu passo meia hora e a esqueço;
  • Namorar é compromisso sério;
  • Namorar é ver todos os dias a pessoa.

Entrevistador

O que acham melhor, ficar ou namorar?

Sujeitos:

  • Meninos: ficar é melhor, porque não conhecemos a pessoa;
  • Tanto faz;
  • Para mim pior é namorar;
  • Meninas: se você está gostando da pessoa, melhor é namorar;
  • Namorar é melhor porque você começa a gostar da pessoa e confiar nela.

Entrevistador

Ficar envolve o quê?

Sujeitos:

  • Não se limita a beijar, quando alguém é gostosa, a gente se amassa e às vezes até transa;
  • Ficar não envolve palavras ou compromisso;
  • É dar uma amassada só, e pronto.

Entrevistador

Os pais de vocês falam do relacionamento e sexualidade com vocês?

Sujeitos:

  • Geralmente meu pai não liga prá isso;
  • Aprendi na rua;
  • Desde que nasci até hoje nunca meus pais falaram disso comigo;
  • Minha mãe aconselha a gente, enquanto meu pai não;
  • Minha mãe fala, só que não as coisas intimas;
  • Minha mãe é divorciada do primeiro casamento e só tenho padrasto, que não liga para mim. Ela foi evangélica e me aconselhava muito, mais agora está desviada da igreja e agora conversa pouco. Ela quer meu bem;
  • Meu pai sempre foi franco comigo, só que agora mudou um pouco.

Entrevistador

Acham que sabem tudo sobre sexualidade?

Sujeitos:

  • Bem pouco;
  • A gente aprende quando transa.

Entrevistador

Que coisas vocês acham que não sabem?

Sujeitos:

  • A pílula do dia seguinte tem meninas que a usam sempre que transam, e acho que isso não é bom. Tenho dúvida sobre isso.

Entrevistador

Por que usam camisinhas, para evitar filhos ou evitar doenças?

Sujeitos:

  • As duas coisas;
  • Estou mais preocupado em pegar doenças;
  • Com o Aids, muitas vezes perdemos a vida;
  • Uma gravidez não desejada arruína a vida e pegar Aids podemos até perder a vida, então eu acho que tenho que mandar os rapazes usar camisinha e eu tomar anticoncepcional;
  • Antes de rolar sem camisinha devemos procurar o ginecologista para fazer exames.

Entrevistador

Acham que em Morretes os jovens correm mais riscos que em Curitiba?

Sujeitos:

  • Tanto faz;
  • Pode vir uma pessoa de Curitiba e pode contagiar as pessoas daqui;
  • Talvez aqui temos menos risco que em Curitiba;
  • Em uma cidade grande pode ser que em uma hora cinco ou seis pessoas sejam contagiadas enquanto que em Morretes pode demorar mais, mas acho que é a mesma proporção;
  • Acho que em Curitiba tem mais chance de contagiar-se do que aqui;
  • Em cidade pequena tem menos mortalidade de Aids que em cidades grandes;
  • Em cidade pequena as pessoas disfarçam mais.

Entrevistador

Se tiverem alguma pergunta com relação a isto a quem recorreriam?

Sujeitos:

  • Talvez ao ginecologista, pediria socorro;
  • Alguma pessoa que conheça melhor esse assunto;
  • Tem que ter cara dura e pedir ajuda, sei lá... Alguém;
  • Aqui não temos socorro nem esclarecimento, aqui ninguém sabe de nada.

Entrevistador

Se houver uma entidade que desse orientação, vocês a procurariam?

Sujeitos:

  • Sim;
  • Eu teria vergonha de chegar, perguntar;
  • Consultaria por telefone;
  • Palestras na escola seriam boas.

Entrevistador

Se houver palestras aqui na escola, vocês fariam perguntas?

Sujeitos:

  • Só pergunta secretas em papel;
  • Não faria pergunta mesmo que acontecesse com o amigo do primo dela, mesmo assim achariam que aconteceu comigo;
  • Só seriam perguntas sem se identificar;
  • Eu não falaria na frente de todos meus colegas não.

 

Sugestão:

Seria bom que viessem dar palestras, onde poderíamos colocar perguntas secretas e vocês responderiam, ou mesmo após a palestra conversar com as pessoas que estão interessadas em particular.

Também seria bom falar com os rapazes e as meninas separadamente.

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