Contos e Causos

História de Pescador
(o cantor fantasma)
Certa feita, eu, Jefe, grande amigo cantor e boêmio e o Giba, resolvemos acampar na barra do rio do Neves, que fica abaixo do Iate Clube de Morretes. A intenção era pernoitar ali para logo de manhã partir em direção aos bons pesqueiros da Baia de Paranaguá, pois sendo lua cheia, uma bela pescaria era esperada. A noite havia chegado. Céu limpo, estrelado, lua cheia. Quando fomos fazer o fogo para assar um peixe na brasa, nem precisamos da lanterna, pois o luar clareava tudo. Depois de degustado o robalo assado, estávamos tirando algumas músicas no violão (sempre companheiro) quando de repente começamos a ouvir mais alguém cantando, mais para longe de onde estávamos. A música vinha suave, baixinho. Lembro-me dela muito bem, pois além de nós e o nosso violão, nada mais era ouvido.
Como a curiosidade matou o gato, logo começamos a indagar quem era, onde estava, se havia mais alguém acampado na beira do rio. O Jefe resolveu verificar. Pediu para que eu fosse junto. Concordei, peguei a lanterna e seguimos em direção àquele som. Era uma música do Júlio Inglesias. Mas o interessante é que a pessoa só cantava um pedaço da música, parava, cantava o verso novamente, parava, e assim, sucessivamente. Já tínhamos andado uns trinta metros e nada de acampamentos, ou barco amarrado. E dá-lhe música: Eu seguirei meu caminho... Eu seguirei meu caminho... Eu seguirei meu caminho...
Como não víamos nada, olhamos um para o outro e começamos a imaginar coisas como assombração, "visagem" entre outras coisas. Mas não recuamos, continuamos iluminando a nossa frente com a lanterna enquanto a música continuava; Eu seguirei meu caminho... Eu seguirei meu caminho...
E cada vez o som aumentava mais, andamos mais uns 10 metros e, de repente, na beira do rio, o som. Bem embaixo de nós e na beira da água. Lembro-me que os pêlos dos braços pareciam pele de ouriço de tão arrepiados que estavam. Voltamos o facho da lanterna para a direção de onde vinha a música e para o nosso espanto, descobrimos a origem de tão assustadora canção. Na beira do rio, em uma curva, tinha um galho de Maricá (uma árvore cheia de espinhos) que estava quase tocando a linha d'água. Boiando em cima da água um pedaço de um LP quebrado do Júlio Iglesias. Havia um redemoinho embaixo do galho. O pedaço de disco ia boiando até a borda do redemoinho, passava no espinho do galho do maricá e saia o som: Eu seguirei meu caminho..., ia, dava a volta, voltava para o espinho do galho e: Eu seguirei meu caminho..., ia, dava a volta, voltava para embaixo do espinho e: Eu seguirei meu caminho...
Como ninguém acreditaria em nós, chamamos o Giba para testemunhar também, além de levar o galho do maricá e o pedaço de disco quando fomos embora. Para quem quiser ver, o galho e o disco estão na sede do Iate Clube de Morretes. Infelizmente não conseguimos mais acertar a posição e a velocidade em que o LP passava em baixo do espinho do galho de Maricá. Só nos resta a lembrança daquele dia. Eu seguirei meu caminho...
Marcos Flavio Malucelli, é pescador entre outras coisas.

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