Cachaça

O TURISMO CEGO

Em uma mesma viagem, embarcam turistas e antropólogos. Aparentemente, indistintos, ambos levam máquinas fotográficas, binóculos, gravador e bloco de anotações. No entanto, a diferença é muito maior do que aparenta a igualdade.
Enquanto o olhar do primeiro está voltado para o lazer e para diversão, os olhos e os ouvidos do antropólogo estão sempre para a compreensão da lógica interna de cada cultura.
Seria este o sentido das viagens, perguntava-se Lévi-Strauss: "Conhecer os desertos do meu interior em vez de conhecer os desertos que me cercam? Vê-se com extrema frequência nas viagens dos turistas, que a maioria das pessoas viajam o mundo inteiro mas não conseguem sair de dentro do seu próprio lugar. Viajar é sobretudo se conhecer. Aquele que viaja o mundo e não muda os seus conceitos, os seus valores e a sua estrutura, não é um viajante. É um fujitivo.
A encantadora tentativa de se conhecer uma outra cultura,um outro lugar vai se desfazendo, na proporção que o olhar interior do turistaé cego. Quem não se enxerga está impedido de ver o mundo.
Este turista não vê a outra cultura, ele se vê no outro.
Sua máquina fotográfica não revela verdadeiramente a exterioridade, mas sim o negativo da sua própria penumbra interior.

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